Kunsthalle Lissabon

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Guerrero (2018), Palma (2018) e Puerta (2018). Foto: Bruno Lopes

Puerta, 2018. Ferro pintado. Foto: Bruno Lopes

Palma, 2018. Madeira pintada. Foto: Bruno Lopes

Guerrero, 2018. Metal pintado. Foto: Bruno Lopes

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Guerrero (2018), Bejuco (2018) e uma pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa. Foto: Bruno Lopes

Bejuco, 2018 (pormenor). Ferro pintado. Foto: Bruno Lopes

Pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa*. Coleção do Museo del Hombre Dominicano, Santo Domingo, República Dominicana. Foto: Bruno Lopes

*A Praça Cerimonial Yuboa era uma das praças mais importantes da cultura Taína aquando da chegada dos espanhóis à ilha a que chamaram La Hispaniola e que atualmente é constituída pelo Haiti e República Dominicana.

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Guerrero (2018), Bejuco (2018), uma pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa e Piso (2018). Foto: Bruno Lopes

Piso, 2018. Mosaicos hidráulicos. Foto: Bruno Lopes

Piso (pormenor), 2018. Mosaicos hidráulicos. Foto: Bruno Lopes

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Piso, uma pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa e Bejuco (2018). Foto: Bruno Lopes

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Piso (2018) e uma pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa. Foto: Bruno Lopes

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Piso (2018) e uma pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa. Foto: Bruno Lopes

Faro, Kunsthalle Lissabon, 2018. Vista da exposição com Piso (2018), uma pedra proveniente da Praça Cerimonial Yuboa e Bejuco (2018). Foto: Bruno Lopes

Engel Leonardo: Faro

A Kunsthalle Lissabon apresenta Faro, a primeira exposição individual em Portugal de Engel Leonardo (Bani, República Dominicana, 1977, vive e trabalha em Santo Domingo, República Dominicana). A exposição inaugura dia 12 de outubro, às 18.30h, estando patente ao público de 13 de outubro a 30 de novembro de 2018.

A 12 de outubro de 1492 a frota liderada por Cristovão Colombo, e ao serviço dos Reis Católicos de Espanha, alcança a ilha de San Salvador, nas Bahamas, convencida que chegara à Índia. Esta data marca o inicio de um período de contato, expansão, exploração, conquista e colonização do continente americano pelos Europeus que decorreu durante os séculos seguintes.

Em 1992, a tempo da celebração do 500º aniversário da descoberta da América, mas com um atraso de mais de sessenta anos, foi inaugurado em Santo Domingo, capital da República Dominicana, o Farol de Colombo (Faro a Colón, em espanhol), um monumento que comemora a descoberta do continente e que alberga também os supostos restos mortais do conquistador europeu.

O Farol de Colombo foi o resultado de uma competição internacional de arquitetura organizada em 1928 pela União Pan-Americana, e que pretendia dotar a cidade de Santo Domingo de um mausoléu para os restos mortais de Colombo, um aeroporto, um palácio presidencial, bem como algumas outras valências. Inspirada pela visão do Pan-Americanismo como uma expressão da unidade dos povos da América, a competição foi descrita, à altura, como a maior competição de arquitetura alguma vez organizada. A primeira fase contou com 456 projetos oriundos de 48 países. O júri fora constituído por Horacio Acosta y Lara, Eliel Saarinen e Raymond Hood, posteriormente substituído por Frank Lloyd Wright. A proposta de Joseph Lea Gleave, um jovem arquiteto britânico, foi a vencedora, tendo a construção sido iniciada em 1931.

De entre os projetos submetidos por arquitetos latino-americanos encontra-se o do brasileiro Flávio de Carvalho. Figura polémica, arquiteto com poucos projetos construídos e um outsider do modernismo brasileiro, a sua produção foi bastante assinalável em áreas como a pintura, a escultura, o desenho, a cenografia e o teatro, tendo sido uma figura de destaque no desenvolvimento da performance. A sua personalidade excêntrica, intervenções pouco convencionais e reflexões críticas escandalizaram os setores conservadores da sociedade paulista do seu tempo. A proposta de Carvalho para o Farol de Colombo combinava uma torre de farol de inspiração futurista com uma base gigantesca reminiscente de formas pré-colombiana e rodeada de arcadas neocoloniais. A decoração dos interiores contava com interpretações abstratas de motivos dos Marajoaras, Guaranis, Maias e Toltecas, realizadas pelo próprio Carvalho.

Recorrendo à escultura e à instalação, bem como a intervenções site-specific, o trabalho de Engel Leonardo investiga questões relacionadas com a natureza, o clima, as tradições, a arquitetura e a cultura popular das Caraíbas. A produção de objetos e as funções psicológicas e sociais a estes associadas são de particular interesse para o artista, que trabalha a partir de um detalhado processo de observação e interrogação do seu próprio contexto.

Em Faro, Leonardo parte do desejo moderno de unidade manifestado através do Pan-Americanismo do início do século XX, materializado no concurso de arquitetura para a construção do Farol de Colombo, mas que interioriza e reproduz sem interrogar as lógicas de operação do colonialismo europeu. Revisitando a proposta de Flávio de Carvalho, ao invés do projeto vencedor, Leonardo traça uma narrativa alternativa de união americana que não ignora noções de colonização, exploração, evangelização e salvação das comunidades indígenas.

Faro abre com um umbral, uma escultura-pórtico que assinala, de alguma forma, a entrada no espaço narrativo da exposição. Esta peça é reminiscente dos umbrais gigantescos que Flávio de Carvalho desenhou para o Farol de Colombo, a partir de exemplos da arquitetura Inca. Na parede, uma peça em metal cita os murais desenhados pelo arquiteto para o salão nobre do Farol. É uma reinterpretação modernista de representações da forma humana provenientes da cultura Tolteca, que Engel Leonardo volta a trabalhar num infindável ciclo de citação e apropriação críticas. Ao fundo da sala, um piso em mosaico hidráulico cobre o chão do espaço expositivo. Completamente funcional, este piso apropria-se de um motivo desenhado por Flávio de Carvalho para os azulejos que revestiriam as superfícies do seu Farol. Engel Leonardo tem vindo a usar vários destes motivos, criando mosaicos hidráulicos que usa como elementos constituintes de um corpo escultórico que iniciou esta pesquisa. Em Faro, os mosaicos deixam de ser simples elementos para a elaboração de esculturas, para cumprirem finalmente a sua função utilitária inicial.
Em frente ao piso em mosaico hidráulico encontra-se uma pedra proveniente da coleção do Museo del Hombre Dominicano. Trata-se de uma pedra da Praça Cerimonial Yuboa, a praça mais importante do território da cultura Taína, atualmente Republica Dominicana e Haiti. A exposição conta ainda com dois elementos escultóricos, em estreito diálogo com a arquitetura do espaço expositivo e que se inspiram em motivos desenhados por Flávio de Carvalho a partir da flora nativa das Américas. Uma escultura em metal pintado, que liga o teto e o chão do espaço expositivo, é reinterpretada por Leonardo como a planta trepadeira bejuco. Um outro elemento escultórico, em madeira pintada, ocupa a junção do teto com um dos pilares do espaço e apresenta-se como uma estilização de uma folha de palmeira, elemento estruturante de qualquer fantasia tropical.

Engel Leonardo (1977, Baní, República Dominicana) vive e trabalha em Santo Domingo, República Dominicana. Estudou na Facultad de Artes da Universidad Autónoma de Santo Domingo e na Altos de Chavón School of Design (afiliada à Parsons School of Design em Nova Iorque). Uma seleção das suas exposições inclui United States of Latin America, MOCAD, Detroit (2015); Focus Latin America, ARCO, Madrid (2015); Rejas, Sillas, Vestidos, Muñecas y Plátano, Museo del Hombre, Santo Domingo (2014); Emergencia, TEOR/éTica, San José, Costa Rica (2014); UNFOLD, Ramos Mederos, Santo Domingo (2013); Moderno Tropical, 27th National Biennale of Visual Arts, Museo de Arte Moderno, Santo Domingo (2013); Under Construction: New Perspectives on Dominican Identity, William Road Gallery, London (2013); On Common Ground, Art Museum of the Americas, Washington D.C. (2012); 26th National Biennale, MAM, Santo Domingo (2011); 24th National Biennale (2007).

A Kunsthalle Lissabon é generosamente apoiada pela República Portuguesa – Direção Geral das Artes, Coleção Maria e Armando Cabral e por Teixeira de Freitas, Rodrigues e Associados. A exposição Faro conta com o apoio adicional da Davidoff Art Initiative e Pólo Cultural Gaivotas-Boavista /CML.

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