Kunsthalle Lissabon

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Vista da exposição na Kunsthalle Lissabon. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Vista da exposição na Kunsthalle Lissabon. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Desenhos de Fitoplâncton. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Coluna de água - escala 1:10, Registo de visibilidade mais curto obtido com o Disco de Secchi. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Vista da exposição na Kunsthalle Lissabon. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Vista da exposição na Kunsthalle Lissabon. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Vista da exposição na Kunsthalle Lissabon. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Vista da exposição na Kunsthalle Lissabon. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Versão aumentada da Escala de Forel-Ule. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman, Indexing Water, 2017. Coluna de água - escala 1:10. Registo de visibilidade mais longo obtido com o Disco de Secchi. Foto: Bruno Lopes.

Irene Kopelman: Indexing Water

A Kunsthalle Lissabon apresenta Indexing Water, a primeira exposição individual em Portugal de Irene Kopelman (Córdoba, Argentina, 1974, vive e trabalha em Amsterdão).

Há mais de um ano, quando o João Mourão e o Luís Silva me convidaram para desenvolver um projeto específico para a Kunsthalle Lissabon, pensei que era o momento e o contexto indicados para dar início a um processo de investigação sobre uma ideia que me acompanha já há imenso tempo: trabalhar com as cores da água.

Há alguns séculos, arte e ciência não eram campos separados, como os conhecemos hoje. Existiam imensos pontos de correlação e coexistência. Como agentes com uma prática no campo das artes estamos bastante familiarizados com os estudos de cor no campo da história da arte, mas os dicionários de cor foram também desenvolvidos no campo das ciências naturais como meios para descrever e comunicar a investigação científica. Em 1831, Charles Darwin levou consigo, abordo do HMS Beagle, um livro cujo nome era A Nomenclatura das Cores. Os cientistas usaram este e outros "dicionários de cor", antecedentes dos atuais livros de pantones, como referência comum, ao descreverem a aparência dos seus objetos de estudo. Os dicionários de cor foram desenvolvidos para criar um vocabulário comum, nos diferentes pontos do globo, para a descrição das cores de tudo, de rochas e flores a estrelas, de pássaros a selos de correio. Permitiram aos cientistas e naturalistas os meios para a descrição e precisão biológicas que podiam assim ser facilmente partilhadas, de modo a que naturalistas em Kalamazoo e na Alemanha pudessem efetivamente comunicar sobre uma família de pássaros encontrada em ambos os lugares. Tipicamente estes dicionários eram constituídos por um conjunto de amostras de cor, e a cada uma era atribuído um nome (usualmente escrito em diferentes línguas para facilitar o uso internacional), um número identificador e também uma descrição mais lírica sobre a cor ("a dor do sangue de um coelho acabado de matar" ou "castanho múmia").

Depois de decidirmos em conjunto avançar com esta pesquisa, contatei o Dr. Marcel Wernand, um oceanógrafo físico no NIOZ (Royal Netherlands Institute for Sea Research), onde é investigador sénior e cuja pesquisa combina o desenho e desenvolvimento de instrumentos multi-espectrais para medir as cores do oceano; a variabilidade bio-ótica dos estuários, mares e oceanos e uma monitorização continuada das cores costeiras; alteração da cor do oceano, a longo prazo, em relação às mudanças globais à história da ciência ótica marítima. Esta particular combinação de linhas de investigação aliada a uma personalidade particular criaram, desde o início, um diálogo extremamente interessante e enriquecedor.

Marcel não era, afinal, apenas um investigador capacitado, mas também um ótimo contador de histórias. A sua pesquisa levou-o um pouco por todo o mundo, a ver muitas águas e a cruzar-se com muitas pessoas. O seu interesse pelo estudo da cor ligou-nos e trouxe vida a toda esta pesquisa.

As entrevistas com Marcel tornaram-se elementos centrais do projeto. Continuei a estudar, a ver livros, a ficar mais envolvida no tópico, ao ponto de participar no congresso do Ocean Darkening Project. A quantidade de informação rapidamente se tornou esmagadora e percebi que me constrangia em vez de me inspirar. Percebi então que o mais interessante que tinha em mãos eram as conversas com Marcel. As suas histórias, o espaço mental que toda esta informação criava nos nossos diálogos. Continuar a conversar, gravar as entrevistas, deixar a informação fluir e tirar notas de imagens que se materializavam durante estas conversas. A narrativa das conversas tornou-se o guião para a exposição bem como de um livro de artista que publicaremos depois.

Como as conversas eram demasiado abertas, propus a Marcel que usássemos como guia a escala de Forel-Ule. François-Alphonse Forel (1841-1912) desenvolveu o método, que três anos depois foi acrescentado pelo limnologista alemão Wilhelm Ule (1861-1940). A escala possui 21 cores. Propus a Marcel falar cor a cor. Ele sugeriu agrupa-las. Um dia sobre azuis, um dia sobre verdes, amarelos e castanhos. Dissecar a escala de cores ajudou-me a entender os fatores que afetam a cor da água.

Irene Kopelman (1974) é uma artista Argentina a viver e trabalhar em Amesterdão. Estudou Pintura na Escola de Artes da Universidade Nacional de Córdoba (1994-2002). Em 2002, Kopelman inicia o programa de residências internacional na Rijksakademie van beeldende Kunsten, em Amesterdão. Na Holanda, Kopelman inicia a sua investigação sobre representações da paisagem registadas no século XVIII e XIX por naturalistas. Este período exploratório, na era do Iluminismo, é profusamente presente em arquivos um pouco por todo o mundo. Inicia uma série de colaborações com coleções de museus como o Museu Geológico (Artis, Amesterdão), a Entomological Collection (Universidade de Amesterdão - UvA) o Teylers Museum (Haarlem), o Museu de História Natural, Londres e a Observatório Académico de Córdoba, Argentina que resultaram em projetos de exposição no Drawing Centre, Nova Iorque (2007), Apex Art, Nova Iorque (2008), Le Plateau, Paris (2009), Gasworks, Londres (2012) e La Verriere Foundation D'Entrerprise Hermes, Bruxelas (2013).

A sua proximidade a estas instituições levou Kopelman a observar as metodologias científicas de trabalho neste campo e despoletou curiosidade sobre os modelos de organização de um assunto que é tão vasto, essencialmente disperso, extremamente dinâmico e simplesmente demasiado escondido para entender ou abordar de uma só vez.

Isto leva Kopelman a passar um período de tempo alargado no Manu Learning Centre, Madre de Dios, Peru em 2012 ao qual se seguiu a sua integração num grupo de 40 cientistas do Sabah Park na Malásia e do The Netherlands Centre for Biodiversity Naturalis (NCB) na Holanda numa expedição ao Monte Kinabalu, na Malásia.

Também em 2012 inicia uma colaboração com o Smithsonian Tropical Research Institute (STRI), no Panamá, que continua ainda hoje. O STRI desenvolveu uma infraestrutura extensa para o estudo da biodiversidade nos Istmos Pananianos e, Kopelman, nesta parceria com o Instituto tem explorado assuntos como as lianas, espécies marinhas invasoras, manguezais e caranguejos violinistas. Associou-se igualmente ao World Glacier Monitoring Service (WGMS) e ao Swiss Federal Institute for Snow and Avalanche Research (SLF) que ajudaram a informar e impulsionar o seu estudo das paisagens glaciares e dos ecossistemas alpinos. Estes desenvolvimentos aconteceram durante um período de residência no Stiftung Laurenz-Haus, Basileia, em 2003.

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