Kunsthalle Lissabon

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); Grass (2019); House pocket (2019); P for Party (2019); 1 2 0 (2019); The Ethereal Mobile (2019); Diagonals for Manuela Morales (2019); New day opening (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); Grass (2019); House pocket (2019); P for Party (2019); 1 2 0 (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); Grass (2019); New day opening (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); T-shirtpants (2019); Grass (2019); House pocket (2019); P for Party (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); Diagonals for Manuela Morales (2019); New day opening (2019); T-shirtpants (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); P for Party (2019); 1 2 0 (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); T-shirtpants (2019); Grass (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); Grass (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019); 1 2 0 (2019); The Ethereal Mobile (2019); Diagonals for Manuela Morales (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, House pocket (2019). Stick de óleo sobre tela. Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Party (2019). Stick de óleo sobre tela. Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, P for Everything. Vista da exposição com Microwave (2019). Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, Microwave (2019). Madeira encontrada e microondas. Photo: Bruno Lopes.

Charles Benjamin, Área metropolitana de Lisboa (2019). Stick de óleo sobre tela. Photo: Bruno Lopes.

SALTS: Charles Benjamin

P for Everything é uma exposição do artista sueco Charles Benjamin, desenvolvida especificamente para a Kunsthalle Lissabon (KL). Resultado de uma troca contínua entre os diretores da KL João Mourão and Luís Silva e o diretor do SALTS Samuel Leuenberger, a exposição marca uma evolução das ideias inicialmente desenvolvidas em Not Old Not New, a exposição individual de Benjamin no SALTS em Birsfelden, Suíça, em novembro de 2018.

Mourão e Silva abordam a Kunsthalle Lissabon como um catalisador social para diálogos emergentes e em constante evolução. No décimo aniversário da instituição, os diretores convidaram quatro co-anfitriões para o espaço: SALTS, PIVÔ, CURA. e ICA Philadelphia. A partir do interesse dos diretores pela reorientação estrutural da noção de colaboração, cada instituição foi convidada a apresentar um projeto, bem como a assumir temporariamente as operações da instituição. Mais do que a prática comum de curadoria externa, a ocupação da instituição significa que a KL, a equipa e as operações deixam de funcionar da maneira habitual para, em vez disso, se reportarem à própria equipa do convidado, adotando as suas lógicas operacionais durante toda a colaboração.

Para o nosso convite, ficou claro que a estrutura social do SALTS seria central para a exposição. A abordagem ao convite de Mourão e Silva - o de uma carte blanche - exigia confiança e entendimento mútuo. Ainda que convidar um artista sem relação anterior com o SALTS pudesse criar algo singular, tal não se adequava a este convite específico. Fazia mais sentido pensar em como o SALTS se comporta, como se relaciona com o mundo e como é, energeticamente falando, recebido pelos seus colaboradores, amigos e público. A colaboração com a KL levou a uma mudança auto-reflexiva: uma análise cuidadosa de como as nossas redes são cultivadas e sustentadas.

Falar com Charles Benjamin sobre o valor das coisas é como abrir um catálogo de imagens e sensações específicas. Benjamin tem inúmeras ideias sobre o conceito de valor e os seus desafios materialistas, sobre os riscos de se expôr e de se comprometer em demasia. Pós-conceptual nos seus princípios, o artista fala sobre arte como um processo de internalização: onde um pôr do sol não é apenas um pôr do sol, mas uma pausa desejada: uma imagem de vinil colada na parede de um quarto de hotel numa cave, escondendo o facto de não existir qualquer janela. Trata-se de um sistema de apropriação visual não muito diferente da publicidade, através do qual a integridade de uma imagem está ao serviço de uma fantasia rápida ou de um estilo de vida. No ano passado, o artista escreveu um livro de poesia intitulado The New Testament Two, oferecendo, como o título infere, aforismos proféticos irónicos como: 'Se houvesse um poema para tudo, não haveria mais nada lá fora'. Algumas coisas estão melhores se deixadas à imaginação.

P for Everything encena um conjunto de telas de grandes dimensões que retratam a vida numa escala épica. Desde instantâneos de uma vida interior tranquila a momentos aspiracionais, as pinturas expandem os motivos representados a um nível de protagonismo exacerbado: uma natureza morta, um telemóvel etéreo, uma calculadora, uma t-shirt e umas calças, uma casa dentro de um casa, um chão em parquê, um relvado. Hiper-minimalista e proto-ingénua, a linha ocre do stick de óleo dá aos espetadores uma estrela para guiá-los pelo espaço expositivo. As telas podem então ser vistas como um livro-razão, mapeando a forma e a técnica das coisas, caso venham a ser esquecidas. Como um diário de bordo, as telas atuam como índice e registo para um processo continuo de ajuste material.

Para a exposição Not Old Not New, apresentada no SALTS em 2018, Benjamin instalou de maneira semelhante um conjunto de telas de formato desajeitado, ajustadas às dimensões do espaço. Constrangidas no espaço subterrâneo da Kunsthalle Lissabon, as telas de P for Everything levam esse conceito adiante: Benjamin esticou a tela de cada pintura sobre pés instáveis. O efeito traz à mente casas comicamente empoleiradas sobre estacas ou corpos enormes lutando entre si por um pouco de espaço. Ao fazê-lo, o artista evita deliberadamente a preciosidade conferida ao género da pintura. Seguindo métodos rudes e instantâneos e projetados para uma desmontagem rápida, cada tela foi montada no espaço de exposição e as grades produzidas a partir de madeira adquirida numa uma carpintaria próxima.
Com a sua ênfase no processo, e não nos objetos exaltados, P for Everything coloca a economia temporal da pintura numa posição central, com o artista trocando as suas obras pelo equivalente a um mês de renda ou então deixando-as numa estação de serviço de uma auto-estrada como uma exposição pop-up organizada por amigos. As telas esparsas podem, assim, ser lidas como uma extensão das atividades diárias do artista, e não como, por um cânone ocidental da pintura, um meio de contar histórias áureas. Essa busca espiritual pela libertação dos objetos de tradições antigas equivale a algo como saborear uma poética menor do quotidiano. P for Everything representa tudo o que uma imagem pode e luta para ser.

Charles Benjamin (*1989, Estocolmo, Suécia, vive e trabalha em Berlim) é um pintor cuja prática explora, de maneira frequente, os seus problemas pessoais, documentando formalmente e troçando de aspetos como dificuldades financeiras, exaustão mental e descrença nas suas próprias capacidades bem como no meio de expressão. A sua prática tem-se expandido por vezes a projetos de índole mais temporal como habitar o chão de uma galeria durante duas semanas sem quaisquer comodidades (Being a better person (And Possibly Helping Others), 2016) ou ficar sentado debaixo de uma árvore durante o duração habitual de uma semana de trabalho (Work/Work Balance, 2017). O seu trabalho foi mostrado na New Day Gallery e Mario Kreuzberg (ambos em Berlim), Espacio Falso (Santiago, Chile), St. Etienne Design Biennale e SALTS (Suiça).

A Kunsthalle Lissabon é generosamente apoiada pela República Portuguesa / DGArtes, FfAI e Coleção Maria e Armando Cabral.

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